Superar é humano – como lidar com erros

Muitos de nós justificamos nossos erros com um velho jargão: “errar é humano”. Mas você entraria em um avião em que estivesse escrito, logo na porta de entrada, “errar é humano”? Certamente não. Isso porque, apesar de justificarmos muitas vezes nossos erros com o conceito de que somos falíveis, sempre esperamos das outras pessoas o melhor que elas podem dar, e sequer consideramos a possibilidade do erro em situações como uma viagem aérea ou uma cirurgia, por exemplo.

Sim, é verdade que errar é humano. Não somos perfeitos e isso é uma condição inegável da nossa espécie. O erro faz parte das nossas ações e só por meio dele conseguimos evoluir. Isso não significa, porém, que devemos nos apoiar nele para justificar tudo. Então, que tal substituir a ideia de que errar é humano por uma outra: “superar é humano”. A superação é nosso grande diferencial evolutivo e é através dos caminhos da superação que podemos construir um mundo melhor.

Voltando ao exemplo do avião, é por meio da superação em relação aos erros cometidos nos muitos acidentes aéreos que se evolui para a construção de aeronaves e procedimentos mais seguros. E os profissionais que se dedicam à investigação dos acidentes, assim como na invenção de novas técnicas mais seguras, não se sustentam na ideia de que “erramos porque somos humanos”, mas dedicam-se a entender quais foram os erros para que eles não aconteçam novamente. Ou seja, para que sejam superados.

Não fosse a capacidade de superação, não haveria mais de 7 bilhões de seres humanos no mundo. Simplesmente porque não teríamos alimentos suficientes para todos. O economista britânico Thomas Robert Malthus fez um estudo em 1803 apontando que a população crescia em progressão geométrica enquanto a agricultura possibilitava um crescimento apenas aritmético, ou seja, as pessoas se multiplicavam muito mais que os alimentos e isso acabaria gerando um colapso. Sua teoria, conhecida como malthusiana, estava certa se considerarmos o que se conhecia na época em relação à tecnologia agrária, mas novas técnicas agrícolas surgiram depois de Malthus, possibilitando cultivos muito mais produtivos para alimentar as pessoas. Um grande exemplo de superação.

A ideia de que somos mais capazes de superar do que falíveis em errar é muito importante de ser adotada também nas relações familiares.

Filhos que crescem em famílias que se limitam a justificar erros em vez de buscar soluções tendem a se acostumar com a ideia de que errar é mais humano que acertar. Já famílias que buscam encarar os erros e aprender com eles em vez de apenas justificá-los tendem a preparar para o mundo filhos mais capazes de se levantar a cada tropeço. Estas famílias possibilitam a construção da autonomia, a grande finalidade do processo educativo (tanto dos pais quanto da escola).

No ambiente profissional, superar é essencial na busca pelo aperfeiçoamento.

Também no trabalho é preciso compreender nossos próprios limites, saber dialogar com escuta ativa e argumentação e aprender a superar os próprios erros, assim como o dos outros. A palavra-chave é a humildade de entender as falhas ao mesmo tempo em que se busca superá-las. Para diminuir as chances de erros, vale investir numa comunicação efetiva com os chefes e subordinados, investindo em clareza e coesão nos pedidos. Ter boas relações no ambiente de trabalho com combinados e prazos bem definidos ajuda a evitar frustrações, gerar expectativas irreais e minimizar retrabalhos. É importante admitir quando se erra e buscar soluções de reparação e isso pode e deve ser exercitado todos os dias.

Todos estamos sujeitos ao erro e vamos tropeçar ou fracassar em algum momento. O que não podemos é enxergar no erro uma justificativa para não tentar de novo, para não fazer melhor, para não buscar outras formas de se chegar aos resultados desejados. A sobrevivência da espécie humana aconteceu graças à superação, portanto aqui fica um convite: que tal transformar o erro de hoje no acerto de amanhã? Que tal fazer melhor, sem a pretensão do perfeito? Que tal levantar a cada queda e encarar o desafio da formação de ambientes familiares e profissionais saudáveis, com pessoas autônomas, capazes de entender, escolher e serem verdadeiramente felizes?

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